Design Ontológico Comportamental

Como mudar comportamento?

Um designer ontológico sempre trabalha para apoiar mudanças de comportamento e construção de novos futuros.

Autor: Eduardo Afonso

“O comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem” 

Johann Goethe

Se há algo comum entre todas as aplicações de Design Ontológico, para pessoas, times e cultura organizacional, sem dúvida é o fato de que um designer ontológico sempre trabalha para apoiar mudanças de comportamento e construção de novos futuros.
Mudar de comportamento pode parecer algo trivial, afinal diariamente fazemos coisas que não planejamos ou que não imaginávamos fazer. A questão se torna mais desafiadora quando incluímos intencionalidade, ou seja, deliberadamente decidimos tomar um curso de ação que não é o mesmo que nosso impulso, hábito ou mesmo tradição (familiar, religiosa ou cultural) nos levaria a realizar.

Há mais de 25 anos estudamos diferentes abordagens sobre comportamento humano e criamos um corpo de conhecimento prático que nos permite compartilhar experiências e distinções poderosas para um designer ontológico comportamental.
Entre dezenas de teorias defendidas por diferentes autores, selecionamos 3 distinções para que você possa tomar contato e buscar mais informações dependendo da necessidade e aplicações específicas.

1 - A Ontologia da Linguagem:

O estudo da linguagem como uma atividade generativa que molda a nossa realidade e não apenas uma ferramenta de descrição. Ela sugere que o modo como falamos e pensamos influencia como percebemos e agimos no mundo. Dessa forma, a linguagem pode criar ou alterar relacionamentos, oportunidades e experiências. Trata-se de compreender a profunda influência da linguagem no nosso comportamento, emoções e na construção da nossa realidade.

2 - Economia comportamental:

O estudo de como os indivíduos tomam decisões de maneira realista, não idealizada. Ela reconhece que as pessoas não são perfeitamente racionais e são influenciadas por fatores cognitivos, emocionais e sociais. Isso contrasta com a economia tradicional, que assume que o Ser Humano toma decisões perfeitamente racionais. Através deste estudo compreendemos melhor as chamadas incoerências práticas entre o planejamento e a execução das mais diversas decisões.

3 - Neurociência/Neuropsicologia:

O estudo do cérebro e suas funções, particularmente como influências comportamentais. Isto inclui a compreensão de como a estrutura cerebral, os neurotransmissores e a plasticidade cerebral podem afetar e alterar os comportamentos.
A partir de estudos de muitos cientistas, encontramos atualmente base para compreender alguns comportamentos e emoções antes declarados como reações a gatilhos externos fixos.
Cada um destes conteúdos fornece ferramentas e insights valiosos sobre como e porque os indivíduos mudam seus comportamentos, e qual a melhor maneira de facilitar essa mudança neste contexto. 

Nossa abordagem autoral de Design Ontológico Comportamental considera os aspectos mentais, emocionais, biológicos e físicos do comportamento, através de um recorte ético que queremos reforçar. Vamos investigar neste texto alguns aspectos da Ontologia da Linguagem, da Economia Comportamental e da Neurociência, fontes principais de nossa metodologia.

ONTOLOGIA DA LINGUAGEM

Este é um tema central de Design Ontológico e mereceu uma atenção especial, com textos específicos, vídeos assíncronos interativos, bem como práticas síncronas conosco.

Ainda assim, cabem alguns comentários específicos no que tange ao processo de tomada de consciência e mudança de comportamento.
Fernando Flores, filósofo, empreendedor e político chileno iniciou estudos para apoiar o desenvolvimento de aprendizagem e “pensamento” de computadores (computer cognition) na década de 80, tendo lançado o livro Understanding Computers and Cognition, juntamente com o norte-americano Terry Winograd em 1986, descrevendo de forma até então controversa, como os computadores poderiam acelerar seu processo de aprendizagem e inteligência artificial, sendo precursores para muitos dos movimentos que hoje proliferam através de aplicativos como Chat GPT e outros.
Ao buscar formas de ampliar esta interação homem x máquina, os autores se concentraram em estudos de John Searle e a filosofia da linguagem, Ludwig Wittgenstein e a interação social através da linguagem como ação, Martin Heidegger e a linguagem como construção da natureza humana além de integrar aspectos da filosofia de Jurgen Habermas e a ação comunicativa e das pesquisas científicas do biólogo chileno Humberto Maturana sobre autopoiese e coordenação de ações através da linguagem.
Este trabalho desenvolveu-se em torno das descobertas modernas sobre a natureza ativa e interpretativa do observador humano. Através da Ontologia da Linguagem, o ser humano não apenas percebe a realidade, mas também a interpreta afetivamente e a influencia ativamente com sua linguagem e ações.
Em sua perspectiva, a linguagem é vista como uma ferramenta de ação, que modifica, portanto, o futuro das pessoas. Segundo Flores, o fato de que nós humanos vivemos na linguagem e de que a usamos para coordenar ações e construir nossa realidade social e individual, faz com que possamos literalmente mudar nossos comportamentos e compromissos, obtendo também compromissos de outras pessoas utilizando atos de fala - PEDIDOS, OFERTAS E PROMESSAS.
Isso significa que, para nós, a linguagem não é apenas um meio de comunicação descritiva, mas também um meio de ação e criação com dimensão generativa. É através da linguagem que os seres humanos criam e modificam suas realidades, tornando aquilo que era antes invisível ou apenas imaginado em algo tangível e concreto.
Como sequência no desenvolvimento da Ontologia da Linguagem, Fernando Flores uniu-se a outros dois chilenos, Julio Olalla e Rafael Echeverria para desenvolverem juntos uma abordagem chamada de coaching ontológico e Rafael Echeverria acabou tornando-se autor dos principais textos de referência sobre Ontologia da Linguagem.
Como comentamos no início deste artigo, vários outros aspectos da Ontologia da Linguagem apoiam a mudança de comportamento, tais como a compreensão do mundo emocional como predisposição para a ação e mesmo de práticas corporais associadas à quebra de rotinas e antigos hábitos e, de outro lado, criação de novas disciplinas e rituais que nos levem a incorporar essas mudanças.
 
Para mais aprofundamento busque nossos artigos, vídeos e a série gravada MERGULHOS, com Margarita Morales e Raquel Trovo, tratando do tema Ontologia da Linguagem Aplicada.

ECONOMIA COMPORTAMENTAL

A Economia Comportamental é um campo de estudo que combina os insights da psicologia, do julgamento e da tomada de decisões para gerar uma compreensão mais acurada do comportamento humano e do tomador de decisões econômicas. Esta disciplina enfatiza o impacto dos fatores psicológicos e sociais, cognitivos e emocionais no processo de tomada de decisões econômicas dos indivíduos e instituições.
Em economia clássica, os seres humanos são vistos como agentes racionais, que tomam decisões para maximizar sua utilidade com base em informações disponíveis. No entanto, a economia comportamental desafia essa visão, sugerindo que, na realidade, as nossas decisões muitas vezes (para não dizer quase sempre) desviam-se da lógica pura e são influenciadas por uma multiplicidade de fatores incluindo preconceitos cognitivos, emoções, e normas sociais.
A economia comportamental tem implicações práticas abrangentes, desde a tomada de decisões financeiras pessoais até políticas públicas, onde insights comportamentais são usados para moldar intervenções que incentivem escolhas melhores.
Apresentamos abaixo um modelo sintético de como podemos considerar a economia comportamental nas intervenções de design ontológico:
Premissas da economia comportamental:
1. As pessoas se deparam com mais decisões e informações do que podemos processar conscientemente.
A pesquisa das ciências cognitivas explica que nossos cérebros processam informações de duas maneiras: 1) usando pensamento lógico e deliberado; ou 2) de forma automática, sem muito pensamento consciente. A maior parte do nosso comportamento é rápida e automática, contando com uma miríade de atalhos cognitivos para reservar nosso processamento deliberado para as situações mais marcantes, não rotineiras ou novas*
2. Muito do nosso comportamento é inconsciente e em resposta ao nosso ambiente.
Como dependemos tanto de nosso sistema de processamento automático, nossas ações e decisões geralmente são condicionadas por nosso ambiente – tanto nosso ambiente físico quanto coisas como publicidade ou elementos de uma tarefa em mãos, como um formulário que devemos preencher.
3. Os seres humanos são seres sociais que se importam com o que os outros pensam e fazem.
Esforçamo-nos para combinar nosso comportamento com aqueles ao nosso redor e agimos de maneira a ajudar a apresentar uma autoimagem positiva, especialmente quando acreditamos que outras pessoas estão observando.
No entanto, a aplicação da economia comportamental também levanta reflexões sobre a eventual manipulação do comportamento das pessoas sem seu conhecimento explícito. Enquanto a economia comportamental oferece ferramentas poderosas para entender e influenciar o comportamento humano, também ressalta a necessidade de consideração cuidadosa de como essas ferramentas são usadas.
Vale ressaltar que um Designer Ontológico tem plena consciência de que sim influenciamos o nosso próprio comportamento e de outras pessoas e que esta constatação traz consigo uma tremenda responsabilidade ética (vide nossos textos e vídeos de referência sobre Ativismo Ético de um Designer Ontológico).

Baseado nessas premissas podemos afirmar que grande parte da tomada de decisão humana é influenciada por uma combinação de fatores individuais, ambientais e sociais. A perspectiva que apresentamos a seguir nos ajuda a influenciar comportamentos, permitindo-nos trabalhar com, e não contra, a natureza humana. 

Fatores individuais:
Como designers de comportamento compreendemos que as pessoas se deparam com mais informações do que podem processar e portanto nos cabe desenhar soluções que busquem simplificar tarefas, processos e políticas complexas. (Recarga Cognitiva)
Fatores ambientais e de design: Com base no fato de que grande parte do comportamento é moldado por nosso ambiente, podemos desenhar protótipos, lembretes, rituais e textos que levem em consideração uma mais fácil escolha, priorizando leituras, interpretações e acesso com prompts e dicas,  podendo ser incorporados a sites e formulários para orientar o comportamento. (Simplificação)

Fatores Sociais: Um designer ontológico reconhece a importância que os seres humanos atribuem à sua conexão com os outros. A partir desta compreensão, podemos desenhar e incentivar as pessoas a se comportarem melhor através de reflexões e observações sobre seu comportamento e o comportamento dos outros. (Normas Sociais)

Além desta abordagem simplificada para utilizar os princípios de Economia Comportamental, vale ressaltar a definição sobre "vieses" que podem levar as pessoas a agir de maneira nada racional. Vieses são tendências sistemáticas e padrões previsíveis de pensamento que levam a distorções na percepção, interpretação e tomada de decisão e muitas vezes  desviam da lógica ou da racionalidade objetiva. 
Em outras palavras, são aproximações que o cérebro realiza ao processar informações. Essas aproximações podem nos induzir a comportamentos disfuncionais, não apenas em termos de decisões econômicas mas em situações diversas do cotidiano. Somos extremamente afetados na maneira como interpretamos o mundo ao nosso redor, como avaliamos os outros e até mesmo a maneira como tomamos decisões por uso destes verdadeiros filtros mentais que operam de forma imperceptível na maioria absoluta do tempo. 
Existem muitos tipos diferentes de vieses cognitivos. Aqui estão alguns exemplos e como podem impactar nossos comportamentos:

1. Viés de confirmação:

É a tendência de buscar, interpretar e lembrar informações que confirmem nossas crenças preexistentes e desprezar aquelas que as contradizem, validando assim, por exemplo, comportamentos inadequados que reforcem antigas práticas ou crenças que muitas vezes nem sequer são nossas mas sim herdadas culturalmente da família, escolas, religião ou mesmo ambientes de trabalho.
Exemplo: Se eu avalio as informações de relatórios buscando fatos, dados ou indicações que comprovem a posição que eu já possuía sobre o projeto e seu impacto, não colocarei atenção e interesse em todas as demais informações que possam contradizer minha tendência, levando-me a tomar decisões e comportamentos que podem ser prejudiciais a mim mesmo, ao projeto em questão e a todos envolvidos.

2. Viés de disponibilidade:

A tendência de julgar a probabilidade de um evento com base em exemplos facilmente lembrados por serem mais recentes ou vividamente imaginados, mesmo que esses exemplos não sejam muito representativos. 
Exemplo: Se tenho acesso a muitas notícias sobre violência numa determinada cidade e assumo que o índice de criminalidade subiu nos últimos meses sem considerar as estatísticas exatas sobre isso, posso alterar meu destino planejado de férias ou mesmo cancelar uma viagem por receios talvez infundados.  

3. Efeito de representatividade:

Neste viés o indivíduo pode assumir determinada posição ou decisão sem considerar a representatividade da amostra. Em outras palavras, representatividade é a tendência em utilizar estereótipos para realizar julgamentos. 
Exemplo: Se me deparo com um homem de terno, que usa óculos e está com um notebook e a seu lado uma mulher usando jeans e camiseta polo e alguém me diz que um deles tem posição executiva numa empresa e outro atua como profissional liberal, tendo a buscar representatividade pela roupa e estereótipos antigos, atribuindo a função executiva para o homem e direciono meu comportamento nessa direção.

4. Viés de aversão à perda:

A aversão à perda refere-se à tendência em preferir evitar perdas do que ganhar algo. Alguns estudos sugerem que as perdas são sentidas duas vezes mais que uma sensação de ganho.
Exemplo: Tomamos muito mais decisões e ações baseados neste viés do que podemos imaginar. Quando eu permaneço numa empresa e numa posição em que me sinto mal tratado, infeliz e pouco desenvolvido e crio explicações mentais de como seria pior ficar desempregado e nem faço os movimentos necessários para buscar mudar essa situação de forma criteriosa. 
Estes são apenas alguns exemplos dos mais de 150 vieses identificados pela psicologia cognitiva e comportamental. Esses vieses são uma parte natural de nossa cognição, mas também podem levar a erros de julgamento, más decisões e avaliações imprecisas da realidade. Daí a importância em reconhecê-los e buscar formas de minimizar seus efeitos.
Outro conceito-chave na economia comportamental é o "nudge" ou "empurrãozinho". Desenvolvido por Richard Thaler e Cass Sunstein, este conceito sugere que pequenos incentivos ou alterações na forma como as escolhas são apresentadas podem ter grandes impactos no comportamento das pessoas. Um designer comportamental conhece essas possíveis influências e as considera nas intervenções de design com seus clientes, sempre partindo da premissa ética do design ontológico de que tudo que criamos nos impactará de alguma maneira no futuro.
Vale também mencionar a contribuição de Daniel Kahneman para a economia comportamental. Kahneman identificou dois sistemas de pensamento que afetam nossa tomada de decisão. O Sistema 1, mais rápido e intuitivo e o Sistema 2, que é mais lento, deliberativo e lógico. 
Segundo Kahneman, utilizamos o Sistema 1 em mais de 95% do tempo, tomando decisões de forma não analítica, ou seja, baseados apenas em vieses e heurísticas que fomos construindo ao longo do tempo através de repetições de experiências práticas. 
O fato de compreendermos como o nosso cérebro funciona não nos permite alterar radicalmente esta tendência, uma vez que o nosso organismo demanda uma enorme quantidade de atenção e energia, incluindo consumo de glicose quando atuamos através do sistema 2 para análises mais pensadas e criteriosas.
Portanto, a Economia Comportamental tem grande influência em como podemos apoiar nossos clientes de design ontológico, sejam eles indivíduos, times ou organizações, a mudar de comportamentos. 

NEUROCIÊNCIA

Muitos dos estudos atuais que chegam das universidades e centros de pesquisa para o mundo organizacional enquadram-se como Neurociências. Assim como outros movimentos e tendências aceleradas, a Neurociência desperta número crescente de adeptos e leitores com distintos graus de aprofundamento e seriedade, gerando impactos já considerados consistentes, bem como críticas pertinentes por mau uso e abordagens comerciais pouco éticas.
Em Design Ontológica buscamos compreender os insights já consolidados e publicados por autores respeitáveis, assim como mantemos a necessária humildade e cuidado nas aplicações práticas com nossos clientes.
Robert Sapolsky e Leonard Mlodinow, por exemplo,  são estudiosos que têm ponderado sobre o comportamento humano, embora através de lentes distintas.
Sapolsky é um neuroendocrinologista e primatólogo conhecido por suas pesquisas sobre o impacto do estresse no corpo humano. De acordo com Sapolsky, o comportamento humano pode mudar devido a uma variedade de fatores, desde gatilhos ambientais e experiências de vida, até a genética e fatores biológicos. Em seu livro "Comporte-se", ele argumenta que nosso comportamento é a culminação de ações em nossos cérebros ocorrendo em diferentes escalas de tempo - desde reações bioquímicas no nível molecular acontecendo em milissegundos, até o impacto evolutivo de milhões de anos.
Esta visão que nos remete a causas superpostas e geradas em dimensões temporais tão distintas poderia, numa análise simplista, gerar explicações tranquilizadoras, quase desculpas para justificar todo e qualquer comportamento humano. Mas o ponto central da perspectiva multidisciplinar de Sapolsky é justamente buscar as causas raízes ou fatores potencializadores do estresse, incluindo genética, fatores ambientais e apoio especializado, sem fechar diagnósticos rasos sobre os motivadores de comportamentos inadequados ou inesperados.

É justamente nesta visão mais integrada que desenhamos nossa abordagem para apoiar nossos clientes a mudar de comportamentos individualmente, ou em equipe ou mesmo numa dimensão mais ampla na organização, como num projeto de design cultural por exemplo.
Na Atma Genus e na Ontológica, batizamos esta abordagem de ATMASET ou mudança pivotal de consciência.
Um dos grandes equívocos atuais quando se trata de mudança de comportamento é a crença tornada “verdade inquestionável” que basta mudar o MINDSET (centro mental e cognitivo) das pessoas e elas automática e milagrosamente mudarão de comportamentos. A maioria absoluta das demandas de trabalho de coaching, mentoria, desenvolvimento de lideranças ou times e mesmo cultura organizacional que recebemos como consultores, vêm acompanhadas deste pedido: Precisamos mudar ou criar um mindset de crescimento, digital, global, de diversidade, etc.
Sim, mudar de Mindset é muito relevante para a mudança de comportamentos, mas nos parece esse o centro mais potente da transformação de atitudes de um Ser Humano. Entendemos que o Ser Humano apenas muda de comportamento quando atribui significado emocional à mudança, quando conecta o seu querer e toma o risco de alterar o caminho, agindo de forma diferente. Batizamos carinhosamente o centro emocional de HEARTSET (centro emocional) e passamos a dedicar muito tempo e prática para esta plataforma de mudanças.
Ao longo dos anos percebemos, entretanto, que haviam outros fatores que impediam cada pessoa a definitivamente apropriar-se destas mudanças. Estes fatores estavam associados principalmente às estruturas e contextos físicos nos quais a pessoa seguia inserida, ou seja, seus antigos hábitos, rotinas e mesmo memória muscular a impediam de seguir no novo trajeto. Batizamos também este aspecto de BODYSET (centro físico) e seguimos estudando como coordenar, simultaneamente, jornadas que integram Mindset, Heartset e Bodyset para efetivamente apoiar as mudanças de comportamento.  

Ao efetuar mudanças de forma a integrar mudanças de vieses ou crenças cognitivas, mudanças emocionais ou de estado de ânimo e apoiá-las com mudanças ou “nudging” na estrutura, processos, ambiente ou corporalidade, acreditamos permitir que, em relação a este tema específico, a pessoa em questão consiga uma alteração do seu estado anterior de consciência, apropriando-se assim deste novo comportamento como algo aprendido e incorporado para novas situações similares.
Outros autores nos apoiam para melhor compreensão dos processos de mudanças de comportamento e queremos aqui destacar dois pesquisadores atuais. 
Leonard Mlodinow é um físico teórico estadunidense e autor que tem explorado o papel da aleatoriedade e do acaso no comportamento e nas decisões humanas. Em seu livro "Subliminar", Mlodinow argumenta que muitos dos nossos pensamentos e comportamentos são dirigidos por processos cerebrais dos quais não estamos cientes, sugerindo que as mudanças no comportamento humano podem ser influenciadas por forças subconscientes complexas.
Ele sugere, assim como Sapolsky, que as mudanças no comportamento humano não são simplesmente uma questão de "escolha", mas podem também ser influenciadas por uma gama complexa de fatores que incluem, mas não estão limitados a, sistema biológico, experiências individuais, ambiente, fatores subliminares, e até mesmo o papel do acaso.
Um designer ontológico sabe que grande parte de nossas escolhas, decisões e portanto nossos comportamentos têm origem em pensamentos, percepções e emoções inconscientes e, neste sentido, investiga vieses para torná-los conscientes, explicita suas conversas privadas, transformando-as adequadamente em conversas públicas, evitando assim rotinas defensivas que podem aprisionar indivíduos, grupos ou mesmo organizações inteiras em comportamentos não analisados.
Lisa Feldman Barrett é uma psicóloga nascida nos EUA, conhecida por suas visões sobre emoções e como elas estão conectadas a nosso cérebro e corpo. Ela tem um enfoque em como nossa biologia, nosso ambiente cultural, e nossas experiências individuais informam nosso comportamento e suas mudanças. 
Aqui estão três pontos sobre suas idéias de como o comportamento humano muda:

1. Construção das emoções:

Em seu trabalho, ela sugere que nossas emoções não são universais e biologicamente pré-programadas, mas são construídas por nosso cérebro baseadas em nossas experiências individuais, nosso ambiente cultural e nossas percepções de situações. Isso implica que nossa compreensão das emoções e, consequentemente, nossas respostas comportamentais a elas, podem mudar com a mudança de nossa percepção e construção de emoções.

2. Aprender com a experiência:

Barrett argumenta que como nosso cérebro prevê e interpreta nosso mundo com base em experiências passadas, mudanças no comportamento podem ser resultantes de novas experiências que alteram as previsões e interpretações do nosso cérebro.

3. Conceptualização do EU (self):

Nossas emoções e comportamentos são influenciados pela forma como conceituamos a nós mesmos e a nossos arredores. Por exemplo, se uma pessoa começa a se ver como uma pessoa mais confiante, ela pode começar a adotar comportamentos que refletem essa autoimagem.
Em resumo, para Lisa Feldman Barrett, as mudanças no comportamento humano são complexas e podem ser influenciadas por uma ampla gama de fatores, incluindo nossa percepção de emoções, nosso aprendizado de experiências passadas e nossa autoimagem.
Em design ontológico temos especial interesse nestes estudos, uma vez que nossas emoções funcionam como predisposições para agir, elevando ou diminuindo as tensões corporais que nos permitem maior ou menor prontidão para a ação. Além disso, aumentar a compreensão sobre a complexidade de nosso cérebro pode nos ajudar a utilizar a linguagem, metáforas e desenhos emocionais a nosso favor.
Outros autores e abordagens são também tão relevantes para nosso entendimento e método de Design Ontológico que decidimos mantê-los em textos, vídeos e reflexões independentes, como é o caso do estudo sobre Estados de Ânimo, onde mergulhamos nos estudos dos pesquisadores Fernando e Glória Flores.  
Sintetizando podemos dizer que um Designer Ontológico deve buscar integrar conhecimentos, sempre conectado a aspectos da cognição ou linguagem, emoções e estados de ânimo e corporalidade, e apoio através de nudging e rituais adequados para ganhar disciplina, transformando novos hábitos em futuros efetivos, éticos e sustentáveis.

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