A normalidade que adoece

Saúde mental é sobre equilibrar aceitação e transformação, reconhecendo o que não podemos mudar e agindo no que está ao nosso alcance.

Autora: Margarita Morales

O ponto de partida para qualquer discussão sobre saúde mental reside na compreensão do seu significado. 

A gente precisa primeiro se perguntar: o que é saúde mental?

Iniciar com essa pergunta é fundamental para guiar qualquer discussão sobre o tema. Na minha visão, a saúde mental está diretamente ligada ao sentimento de bem-estar, mas de uma forma mais complexa. 

Digamos que seria um bem-estar em níveis, um bem-estar em que encontro saúde e capacidade para lidar com as minhas emoções, para cuidar do meu corpo, da minha mente, ou seja,  um equilíbrio entre saúde mental, emocional e física.

Isso se traduz em uma mentalidade onde compreendo que, se há coisas que não posso mudar, estou tranquila, fico em paz e aceito. Não me entristeço nem me desespero por isso. 

Porém, nas áreas onde posso fazer algo, onde tenho capacidade e ferramentas, seja em aprender ou transformar, consigo gerar energia emocional que me possibilita estar aberta a esse processo e, assim, atuo e posso mudar as coisas. Tudo isso com discernimento e habilidade de tomar decisões, de olhar todas as perspectivas e ter abertura para refletir sobre aquilo que está na minha frente.

Acredito que conseguimos encontrar uma trilha para o bem-estar emocional quando agimos dessa forma, pois enxergo a saúde mental como um processo onde consigo equilibrar a aceitação do que não posso mudar com a disposição ativa para transformar e aprender aquilo que está ao meu alcance.

Na minha jornada como mentora, coach e designer com pessoas no mundo do trabalho, tenho visto muitas pessoas enfrentando dificuldades para alcançar esse estado de equilíbrio mental. Percebo que esse adoecimento ocorre principalmente devido à dificuldade que elas têm em mudar o seu olhar e identificar o que está acontecendo de errado.

Na maioria das vezes, esse adoecimento vem de situações e contextos que socialmente julgamos "normais", que fazem parte da rotina e do trabalho, mas que, na verdade, estão adoecendo essas pessoas por dentro.

Mas o que, por exemplo, seria esse "normal"?

A cultura da produtividade, da performance a qualquer custo, do não se permitir descansar com a ideia de que deveria estar trabalhando, de não dar espaço para os sintomas ou o mal-estar e querer anestesiar imediatamente...

Vivemos para produzir e acreditamos nesse modelo achando que é "normal", mas na verdade não é!

Além disso, neste contexto do trabalho, existem questões que estão além do nosso poder, onde o salário está em jogo, e há uma cultura, um chefe, uma liderança…

Como podemos mudar nossa perspectiva e encontrar um lugar saudável quando adoecemos nesses ambientes? Onde entra nossa capacidade de construir saídas ao levar essa discussão de saúde mental para o mundo corporativo?

O Design Ontológico, método elaborado e desenvolvido por nós na Atma e Ontológica , emerge como um ponto de partida potente para produzir soluções sustentáveis no âmbito da saúde mental no contexto do trabalho. Ao introduzir uma novo ponto de vista nessa problemática, ele propicia uma transformação significativa pelos seguintes pontos de vistas:

Reconheça o “normal” que te adoece

Muitas vezes, trabalhar frustrada (o) e cansada (o) é normal, é o padrão. Ter os sintomas decorrentes do adoecimento do trabalho como burnout, estresse, e agir como se nada tivesse acontecendo, também.

Acreditamos que trabalhar incessantemente, atingir metas e estar exausto é aceitável. Mas por que pensamos assim? 

Porque são crenças arraigadas, que foram construídas em nós, e assim acreditamos que isso é o que significa trabalhar

Aliás, essas crenças influenciam até na hora de decidirmos o que escolher como profissão ou se podemos transicionar de carreira, pois ainda há crença de que carreira se resume a um curso, a um caminho já pré-estabelecido, a um diploma…

Portanto, ao considerarmos a saúde mental e a promoção dela no mundo corporativo, é essencial começar identificando as crenças que temos sobre trabalho, sobre desempenho, sobre carreira, até mesmo sobre descanso.

Em que contexto estamos inseridos que nos levam a acreditar nessas coisas e entrar nesse estado de adoecimento ? O que seria possível mudar dentro dessa realidade?

Aceitação do que realmente é o problema

Uma vez que eu reconheço o que está me adoecendo, noto de onde vêm as minhas questões.

Essa aceitação de que estou adoecida, de que estou neste lugar, de que preciso de ajuda, onde reconheço meus sintomas, aceito que essa posição não me satisfaz e deixo de disfarçar. É esse lugar de confrontar aquilo que aprendemos a vida inteira, sobre todas as crenças que nos foram dadas. É isso que me disseram, é isso que todo mundo faz, é isso o que todo mundo me falou, mas reconheço que estou insatisfeita, estou doente, que não estou bem. Quando aceito, quando entendo que não estou bem, abre-se um espaço para desenhar novas realidades.

Nessa etapa é o momento de acolher as escolhas, nossos sintomas, e possibilitar um espaço para questionar a realidade. E a partir desse lugar, começa um desenho para romper com esse "normal", olhando para tudo agora de um outro ponto de vista e entendo esse contexto.

Futuro

Apoiado nessas reflexões, podemos explorar o mundo da emocionalidade para entender o que está errado e o que precisa ser tratado.  E a partir disso abrir conversações para entender o que podemos alterar, o que está ou não está fora do nosso controle e o que permanece desconhecido. Embora isso possa parecer óbvio e simples, na prática, não é! Existem situações em que é possível efetuar mudanças, como trocar de emprego ou lidar com questões de saúde. No entanto, há circunstâncias imutáveis na vida. Às vezes, mudamos de relacionamentos, crenças ou preferências, mas a essência permanece a mesma. Assim, a mudança necessária precisa acontecer em nós mesmos. Definir limites e compreender o significado das coisas são passos fundamentais nesse processo.

Dessa forma, ao reconhecermos o contexto e as causas do que pode estar nos adoecendo na abertura dessas conversas, podemos delinear novas alternativas.

O que podemos criar e implementar para alcançar a saúde que necessitamos?

Rede de Ajuda

Comunidade é um elemento fundamental no processo de apoio à saúde mental. 

Reconhecemos que o olhar e a ajuda das pessoas ao nosso redor são essenciais para alcançarmos a conclusão bem-sucedida de nosso processo de cura e crescimento. Essa perspectiva se manifesta de maneira ainda mais significativa, pois não apenas buscamos nosso próprio bem-estar, mas também nutrimos e promovemos o bem-estar dos outros.

Possibilidades 

A competência de compreender a natureza interpretativa dos seres humanos nos oferece habilidades para flexibilizar nossa percepção sobre as coisas e como interagimos com elas. 

No contexto da saúde mental, isso traz leveza para descobrirmos novas possibilidades e explorar diferentes perspectivas. Ao analisar o problema e o que pode estar causando adoecimento, encontramos maneiras de romper com padrões que levam à doença e construir um caminho em direção à saúde.

Assine a Newsletter da Atma Genus

Receba conteúdos exclusivos da Atma Genus e da Ontológica.

Bem-vindo! Em breve você receberá noticias sobre a Ontológica
Oops! Por algum motivo o seu email não foi enviado.